Uma das perguntas mais frequentes que recebo quando se trata de aprender um novo idioma é: qual é a melhor idade para começar?
Bom, você provavelmente já ouviu dizer que a melhor fase para aprender um novo idioma é na infância, certo? Mas será que é isso mesmo?
E aqueles que aprenderam quando adultos? Sabemos de inúmeros casos de sucesso de pessoas que começaram a aprender nos seus 30, 40, 50 anos ou até mais.
O Seu João, por exemplo, tem 83 anos e é meu aluno – um dos mais dedicados, inclusive. E a Pérola, de 4 meses, também. Agora, a reação das pessoas quando conto um desses dois casos é sempre a mesma: “Sério? E aprende mesmo?”. Sim, aprendem. E muito bem! Cada um com suas particularidades e vantagens da idade.
Essa ideia de que existe um período ideal para a aquisição de um novo idioma, e que ser exposto a ele durante esse período é essencial, ainda é controversa. Existe muita evidência de que podemos aprender um segundo (ou terceiro, quarto, quinto) idioma em qualquer idade.
Pensando nisso, elaborei esse conteúdo para compartilhar com vocês o que aprendi nessa caminhada de mais de 15 anos na educação. Espero que gostem.
Neuroplasticidade
Primeiro vamos começar falando de neuroplasticidade. Ela é a capacidade do cérebro em desenvolver novas conexões sinápticas entre os neurônios. E o que exatamente seria isso? Basicamente, é a habilidade que temos de aprender, de forma que esse conhecimento seja colocado na caixola da memória de longo prazo (ou seja, para ser usado o resto da vida).
De fato o nosso cérebro tem uma maior plasticidade na infância, favorecendo a aprendizagem de novas informações. E é muito importante que a criança seja estimulada nessa fase para favorecer seu desenvolvimento motor, cognitivo, emocional e social. Porém, nada impede que novas conexões se formem na vida adulta e que o aprendizado, como o de uma língua estrangeira, ocorra.
Razões biológicas, aspectos sociais, fatores externos e tempo
Tenho alunos de todas as faixas etárias, e os resultados com o curso nunca estão relacionados apenas a idade. O aprendizado de um idioma depende de inúmeros fatores, tais como estímulos externos, interação social, esforços implícitos (inconscientes) e explícitos (conscientes), conhecimento prévio, tempo de exposição, dedicação, persistência e boas noites de sono.
Estudos indicam que existe sim uma possível queda na habilidade de aprender um novo idioma após um certo período das nossas vidas. E sem dúvida esta queda pode proceder de razões biológicas, mas também pode estar relacionado a aspectos sociais e a outros fatores externos.
A criança, em um contexto típico, é livre de preocupações. Imagino eu que a Pérola não está assistindo a minha aula pensando na pilha de roupa para lavar que a espera quando voltar para casa, ou na conta do cartão de crédito que vence amanhã. Por outro lado, os alunos nas minhas turmas de adolescentes podem estar preocupados com a próxima prova de matemática, com o crush que não responde à mensagem no WhatsApp ou com uma questão familiar. E, da mesma forma, um pensamento de preocupação com os filhos (o cônjuge, uma questão no trabalho, as contas, a pandemia e por aí vai) provavelmente passa pela cabeça dos meus alunos adultos durante os nossos 60 minutos de aula. Além disso tudo, ainda tem o cansaço físico e mental tanto para adolescentes quanto para adultos.
A idade de aquisição não é tão importante quanto a duração de exposição ao idioma. Para um adolescente ou um adulto, aprender uma língua é uma decisão consciente, e o esforço intencional é importantíssimo para obter sucesso. Naturalmente, um estudante de 25 anos, por exemplo, pode criar o hábito de praticar o idioma que está estudando todos os dias. Agora, uma criança de 5 anos, depende diretamente do incentivo e auxílio da família.
Para aqueles que realmente se dedicam ao aprendizado do idioma, é notável como adolescentes e adultos aprendem uma série de vocabulário e estruturas linguísticas logo no início do curso. O processo de aprendizado das crianças costuma ser mais longo. Falo isso considerando que os alunos não estão em um contexto de imersão no idioma.
Medo de errar e vergonha
Um outro aspecto a ser considerado é que, mesmo com um nível de proficiência limitado, as crianças, em geral, não costumam se prender a questões como o medo de errar e de passar vergonha. Em contrapartida, adultos tendem a monitorar a sua fala e evitar cometer erros. Muitos se sentem envergonhados pela sua falta de compreensão no idioma que estão aprendendo, o que pode retardar o processo de aprendizagem.
Pronúncia
Uma outra possível vantagem para crianças, é a facilidade em reconhecer e praticar sons do idioma estrangeiro, apresentando uma fonética mais similar à de um falante nativo. Entretanto, isso não significa que um adulto não seja capaz de aprender a pronunciar as palavras de forma correta.
Benefícios cognitivos
Por fim, ao abrir a janela da comunicação com o mundo surgem infinitas possibilidades. Só o fato de você ter acesso a culturas diferentes da sua já é enriqueceder por si só. Mas, além disto, pesquisas recentes têm confirmado benefícios cognitivos na aquisição de novos idiomas, indicando que esse processo, ocorrendo de forma adequada, pode significar um maior desenvolvimento de inúmeros aspectos, como:
- Capacidade de raciocínio
- Rapidez na tomada de decisões
- Pensamento crítico e criatividade
- Flexibilidade nas redes neurais
- Capacidade de solução de problemas
- Habilidades de multitarefas
- Capacidade de manter o foco em informações relevantes
- Capacidade de armazenamento de memória
- Consciência fonológica
- Habilidades interpessoais e intrapessoais
Um outro benefício extraordinário é o retardo no desenvolvimento de sintomas de doenças relacionadas a demência, como o Alzheimer. Dá para acreditar?
Levando todos esses pontos em consideração, tenho certeza que você concorda comigo que quanto antes aprendermos um outro idioma, melhor. E se esse processo acontecer ainda na infância, ótimo. Agora, seja qual for a idade, esses aspectos contribuem para o desenvolvimento como um todo e serão úteis em qualquer momento da vida.
Uma das coisas que mais escuto de adultos (em sua maioria, abaixo de 60 anos) é que já estão velhos demais para aprender um outro idioma. E o meu intuito com este post é desmistificar essa ideia. Existem sim vantagens de se aprender um segundo idioma ainda na infância, e recomendo para todas as famílias. Mas se você não teve a oportunidade de aprender inglês na infância, não significa que o seu tempo já passou. E usar isso como uma barreira só irá te prejudicar. Existem também vantagens de se aprender um novo idioma quando se tem mais maturidade. Para obter sucesso, é importante adotar práticas e estratégias próprias de acordo com as características de cada fase. Aprender qualquer coisa exige tempo. Ninguém aprende algo da noite para o dia, nem as crianças. É preciso ter paciência e dedicação. E sempre é tempo de aprender algo novo. Que o diga Seu João, a melhor fase para aprender é AGORA.